domingo, 9 de junho de 2013

Dia de Limpezas

Acredites ou não arrumei-te na gavetinha mais funda de mim. Digo funda porque a profundidade dá-me a distância que preciso de ti. Não desejo o esquecimento mas sim a lembrança vaga da perfeição que fomos, uma anamnese que me abrasa a alma quando a saudade supera o raciocínio. Foste e tiveste o melhor e o pior de mim. Engraçado como o bom e o mau andam sempre de mãos dadas, e como conseguimos amar com tamanha força que passamos a odiar. Acho que nunca te odiei mesmo, mas antes a mim por te me ter entregue a ti sem limitações. Mas agora que desentoxiquei o meu corpo de tudo o que me fazia lembrar de ti, que o ensinei a viver sem o teu perfume, o teu calor ou a tua respiração sinto a leveza do ar, e finalmente volto a sorrir. 


terça-feira, 28 de maio de 2013

Desilusão

Vesti a máscara de rameira sem coração e expulsei-te da minha vida como um cão rafeiro. Disse-tas todas, as que estavam entaladas à muito, rebaixei-te, humilhei-te, exigi, retratei-te como prejudicial e carimbei-te de nocivo. Desprezei com todas as minhas forças o que sentia, para que tu percebesses e te desses todo a mim. Revolta, fúria, indignação, era o que eu esperava de ti. Que organizasses um motim, que me tratasses mal,  que me agitasses o corpo em sinal de revolta e vociferasses que não, não e não!. Que me supusesses bêbeda, drogada, sei lá inebriada por qualquer outro motivo. Que achasses que o almoço me caíra mal, que me parou a digestão e o cérebro. Que me chamasses de tola, imbecil, pateta. Que a tua felicidade era eu e não irias abdicar dela assim sem luta. Que oferecesses resistência pela nossa felicidade. Mas tu lixaste-me bem quando aceitaste tudo com esse ar de carneiro mal morto e te postaste no teu canto resignado. Morreste na praia, caíste antes da meta, perdeste a voz um segundo antes do discurso e ficaste-te. Foi nesse momento que percebi que já tinhas desistido de mim por ventura há muito tempo atrás.

quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Dia Feliz

Olho para a janela, lá fora os raios de sol aleijam-me os olhos enganando o calendário. O calor invade o quarto frio até então, tornando-o bem disposto. Não fossem os casacos de inverno no cabide ou as botas ao pé do armário ninguem diria que de um dia de Janeiro se trata. Gosto de me sentir assim, acolhida. Hoje, apesar de tudo sinto-te tão leve em mim, que sou capaz de sorrir. Consigo abstrair-me de todas dores que me tens dado e penso em ti com alento. Sorrio, e apercebo-me que é um gesto ao qual o meu rosto já não está habituado. É verdade já há bastante que não sorrio, os meus dias têm-se pintado demasiados cinzentos.
Mas hoje noto que uma calma reina em mim, fico contente por saber que afinal a dor está a afastar-se, ou então simplemente me habituei a viver com ela, de uma forma ou de outra a paz que hoje me sobrevoa anima-me. Hoje vai ser um bom dia.